Atrocidades Modernas

Eu li sobre o apocalipse durante o último final de semana do verão de 1997. A cada página meu coração soluçava apresentando diversas alterações eletrocardiográficas. Era um esforço anormal virar as folhas. O romance em questão se chamava “Atrocidades Modernas”, de Paulo Becker, e certamente não agradou a crítica especializada, muito menos aqueles desinteressados em rocamboles narrativos desfigurados livremente.

Mesmo assim, alguns leitores vorazes toparam criar um grupo de leitura e me convidaram para fazer parte. Achei ok e aceitei. Eu não tinha nenhuma razão para não me engajar nessa atividade. Além disso, eu considerava o livro especial e queria muito me aprofundar nas ideias do autor. Dessa forma, digamos, eu explicitamente entrei para o grupo “Atrocidades Modernas”.

Segue um grotesco excerto do livro:

“Quando uma fórmula considerada hipoteticamente verdadeira começa a ser escrita entendemos o que vem a seguir como sendo o resultado de uma matriz com sistema lógico baseado em um conteúdo e um discurso coerente. Isso quer dizer que estamos andando ao redor de colunas conceituais de pura elegância e rigor. Assim, dentro desse plano perspectivo, e com esse tipo de linha argumentativa como aríete, estamos prontos para desvendar o mundo real, natural e físico. Nossas ferramentas, então, são a lógica, a razão e a coragem. Como dizia o ancestral humano, “um mergulho no lago naturalista não pode e não deve nos desanimar”. Somos protagonistas dessa História. Temos o poder de domá-la através de nossa retilínea perseverança. Da mesma forma que o fio da navalha fatia a carne, o verbo segrega a vida em dois planos de existência prospectando ambos em direção a uma nova e terceira existência. Esse verbo Gilette atua contra a falácia na intenção de romper a barragem que bloqueia a visão. Sabemos que essa lâmina é capaz de dividir o átomo tamanha sua potência destruidora. Entretanto, também, é capaz de atrair e agregar bilhares de naturezas e seres humanos, pois em nossos corações não há mais espaço para o metafísico nem, no obstante, para o transreal. Encaramos tudo como irrelevante quando optamos pelo processo seletivo baseado na competição. Gostaria de finalizar dizendo que a deslogicização de nossa sociedade manifestada na vultuosa e desvairada soma de medos, não deve nos assustar, tampouco deve causar perturbação. Ao contrário, ela deve ser dilacerada pelo o fio da espada e esmagada pela pureza infinita do que é Serto.”